quarta-feira, 24 de outubro de 2012


 BULLYING
COMO SE PREVINIR?
         
  
         Bullying é uma palavra inglesa que significa usar o poder e a força para intimidar, excluir, implicar, humilhar, não dar atenção, fazer pouco caso, e perseguir os outros. Muitas crianças vítimas de bullying desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos, queda no rendimento escolar e geralmente evitam retornar à escola. Muito tem sido falado sobre o que fazer com as criança ou com os adolescentes vítimas do bullying, sobre qual atitude tomar com aquele que pratica o bullying e como a escola deve agir. Mas onde e quando tudo isso começa? O que leva uma criança ou um adolescente a praticar bullying ou ser vítima dele?
            Nos dias de hoje, muitas famílias, por questão de sobrevivência ou por quererem dar uma vida melhor aos filhos, passam mais tempo trabalhando, fora ou dentro de casa, e dedicam menos tempo aos filhos, delegando a outros a responsabilidade de educar, de colocar limites e de resolver quaisquer outros problemas. Outras vivem vidas desarmônicas, disfuncionais e em conflito, prestando pouca atenção às necessidades emocionais dos filhos e aos problemas intrínsecos ao próprio desenvolvimento, levando a criança ou ao adolescente a perderem o referencial de segurança e confiança em seu próprio lar. Winnicott, psicanalista inglês, diz em seu livro, “Privação e Delinqüência” que: “o sentimento de segurança de uma criança está intimamente vinculado às suas relações com os pais....”. Quais são as saídas possíveis para uma criança ou adolescente que não encontram em seus pais (ou substitutos) o suporte emocional, físico e afetivo necessário ao seu desenvolvimento? Ainda, segundo Winnicott, “tudo começa em casa” e aí se inclui o alicerce da saúde mental.  É esse suporte que facilitará os processos de maturação de cada criança, no decurso da vida familiar permitindo-lhe a expressão de seus conflitos, de suas inseguranças, de suas frustrações e, principalmente, de sua destrutividade. Caso a criança se encontre impedida, pelas razões já descritas acima, de provocar e testar seu meio ambiente (pais), através da exteriorização de seu mundo interior, se verá forçada, ela mesma, a sufocar e a controlar seus impulsos e não terá a oportunidade de dar e de fazer uma reparação pelo “dano” causado e não tendo como aliviar um sentimento de culpa. E, segundo Winnicott: “... energia instintiva reprimida constitui um perigo potencial para o indivíduo e para a comunidade”.
Voltando ao tema, sinto-me obrigada a dizer que antes mesmo de crianças e adolescentes serem vítimas ou praticarem bullying, alguma forma de sofrimento elas estão vivendo ou já viveram dentro de casa: exclusão, pouco caso, alguma forma de negligência e falta de atenção; humilhação, intimidação, perseguição, implicância e violência física e/ou verbal entre seus pais. Como resposta, teremos numa ponta a criança e/ou o adolescente ousados e na outra os tímidos, os inseguros. Aqueles manifestarão abertamente a agressividade e a hostilidade e estes encontrarão essa agressividade não dentro de si, mas em outro lugar, e terão medo dela, ficando apreensivos e na expectativa de que essa agressividade volte-se para si próprios. É aqui, dentro do próprio lar, que devemos investigar a existência de algum problema (conflitos conjugais, desamparo....) e é a isso que devemos prestar atenção se quisermos prevenir o bullying dentro das escolas.

“Como é a criança normal? Ela simplesmente come, cresce e sorri docemente? Não, não é assim. Uma criança normal, se tem a confiança do pai e da mãe, usa de todos os meios possíveis para se impor. Com o passar do tempo, põe à prova o seu poder de desintegrar, destruir, assustar, cansar, manobrar, consumir e apropriar-se. (...). Se o lar consegue suportar tudo o que a criança pode fazer para desorganizá-lo, ela sossega e vai brincar, mas primeiro os testes têm que ser feitos e, especialmente, se a criança tiver alguma dúvida quanto à estabilidade da instituição parental e do lar. Antes de mais nada, a criança precisa estar consciente de um quadro de referência se quiser sentir-se livre e se quiser ser capaz de brincar, de fazer seus próprios desenhos, ser uma criança irresponsável. (Privação e Delinqüência, p. 129)

Uma criança que teve esse lar amoroso, desde o início, será capaz de desenvolver os sentimentos de auto-confiança, de auto-estima e segurança em si própria. Por sua vez, aquela que, em determinada etapa do seu desenvolvimento (onde já existia o sentimento de alteridade e a noção de que o que ela recebia vinha de fora, do seu lar), foi privada desse ambiente estável só terá como saída recorrer à sociedade (escola etc...) para lhe fornecer a estabilidade de que necessita. E é aqui que começa a se observar comportamentos anti-sociais. A criança ou o adolescente procurarão reaver o lar amoroso perdido provocando e testando aqueles à sua volta (professor, diretor, os pais), buscando inconscientemente um limite ao efeito concreto de seu comportamento impulsivo. Testando os limites e recebendo-os de volta eles poderão recuperar aquilo que sentiu que perdeu, ou seja, seus impulsos primitivos de amor, seu sentimento de culpa e seu desejo de corrigir-se, porque sabe ter alguém em quem depositar todo tipo de angústia, medo, insegurança e preocupação. Portanto, podemos dizer que o bullying também é o comportamento daquele que se sentiu privado de tudo que um dia teve em seu lar (deprivação, segundo Winnicott). E, sendo assim, nós, educadores, psicólogos e pais ainda temos chances de ajudar. A conduta anti-social é indicativa de que alguma esperança subsiste. Ela é um SOS, um pedido de controle de pessoas fortes, amorosas e confiantes. A criança pode receber psicoterapia, desde que seja lhe oferecido um ambiente estável e forte, com assistência e amor pessoais, e doses crescentes de liberdade. Sem esse ambiente a criança não terá grandes probabilidades de êxito.
Num sentido mais prático, a escola, ao receber uma queixa de bullying, deve, junto com o SOE, convidar os pais para informar do ocorrido e colher informações a respeito da criança e de problemas e conflitos familiares acontecendo. Diante da negação do comportamento da criança ou dos problemas familiares, a escola não terá outra alternativa senão recusar aquela criança. Caso haja aceitação, toda a família deverá ser encaminhada para tratamento psicológico e o SOE deve ser informado do progresso da criança e dos pais, levando-se em conta o sigilo de um tratamento psicológico. Será também de responsabilidade do SOE se colocar à disposição da família, da criança e do profissional de saúde para prestar quaisquer informações e orientação.
Já na outra ponta, está a criança que é vítima de bullying. Da mesma maneira que o problema está em casa no caso de quem pratica bullying, assim também pode ser para quem sofre as agressões. Lembro agora de uma frase de Fernando Pessoa que dizia: “aquilo que é demais é demasiado”. A criança que não consegue se defender de ameaças, de implicância, de agressões etc.... pode estar tendo como alicerce para o desenvolvimento de sua personalidade famílias super-protetoras, famílias negligentes às suas necessidades ou famílias disfuncionais. A citação de Winnicott, mais uma vez, se faz presente aqui: “Como é a criança normal? Ela simplesmente come, dorme e sorri docemente? (......)”. A criança que não teve a chance de destruir, desintegrar, explorar, seja porque tinha por trás uma mãe e/ou pai com medo de que ela se machucasse, de que ficasse doente, de que ficasse triste; seja porque foi privada (e não deprivada) de um ambiente estável, por separação dos pais ou porque foi tirada do lar em que vivia e tinha esse como o seu etc.... não pôde aprender a lidar com a perda  de um brinquedo, de um amigo, de uma brincadeira; não pôde brincar e descobrir por si mesma os desafios do seu pequeno mundo e de lidar com aquilo que traz consigo; não teve uma base sólida em que se estruturar. Por sua vez, não pôde desenvolver sentimentos de auto-confiança e segurança e acreditar que o mundo não é tão perigoso e que pode se defender. Ela só aprendeu que o mundo não é confiável e nem seguro. Essas são as crianças tímidas, as que me referi acima, prontas, à espera de dificuldades e que têm medo de que o mundo e as pessoas irão persegui-la. Ainda segundo Winnicott: “O brincar, baseado como é na aceitação de símbolos, contém possibilidades infinitas. Torna a criança capaz de experimentar tudo o que se encontra em sua íntima realidade psíquica pessoal, que é a base do sentimento de identidade em desenvolvimento. Tanto haverá agressividade como amor” (idem, p. 107) (meus grifos). A mágica do brincar é dar subsídio a criança para destruir, aniquilar, reparar e construir. A criança que não pode jogar um brinquedo fora, porque está com raiva de um pai ou de uma mãe que nunca estão presentes ou que não lhe dão atenção não aprenderá a lidar com o choque de reconhecer a existência de um mundo situado fora do seu controle mágico. Quando a criança é impedida de ser criança, tiram-lhe a possibilidade de “contribuir”, de dar algo seu para alguém querido e, com isso, roubam-lhe o desenvolvimento do sentimento de ser capaz, de ser boa o suficiente e de que pode produzir coisas boas.
 Muitos pais repetem na vida familiar, principalmente com os filhos, aquilo que sofreram em suas infâncias ou, no outro oposto, vivem diariamente o passado tentando evitar que os filhos passem pelo que eles passaram. Outros há que, apesar de serem avós, desempenham o papel de pais (situação muito comum atualmente), sentem-se responsáveis pelo cuidado dos netos e os super-protegem por medo de futuras acusações ou reclamações. As conseqüências da super-proteção, da falta de disponibilidade para com os filhos, do medo e da ansiedade em demasia, dos conflitos insolúveis são imprevisíveis, porque quaisquer dessas atitudes afetaram e/ou afetarão o sentimento e a percepção que a criança tem e terá de si própria.
E o que fazer quando a escola é informada ou descobre que há alguma criança sendo vítima de bullying? Infelizmente, quando se descobre que uma criança está sofrendo agressões e ameaças, muito tempo, às vezes, já se passou. Com a auto-estima ferida, sua confiança nas pessoas já está abalada e um forte sentimento de insegurança não lhe permite denunciar os abusos por medo de retaliação. Os pais, apesar de perceberem algo de diferente no comportamento da criança ou do jovem, muitas vezes não sabem como agir e não conseguem saber o que está, de fato, acontecendo. Por essa razão, é de extrema importância que, a qualquer pequena mudança no comportamento do filho (retraimento, isolamento, recusa a ir à escola ou a sair de casa, irritabilidade, falta de concentração etc..) os pais procurem se informar na escola sobre o filho, principalmente em se tratando de adolescentes. Quando criança, normalmente um dos pais ou outro responsável levam-na à escola, tendo maior acesso ao material escolar e informações sobre seu desempenho, participa de conselhos e reunião de pais e conhece os amigos e colegas da criança. O mundo adolescente é um mundo mais fechado e de afastamento das figuras parentais, daí a importância de estar sempre mostrando interesse em relação à escola, aos amigos, ao que eles gostam de fazer etc ....  Escola e pais têm que se unir em prol da vítima garantindo-lhe principalmente segurança. A família terá que ser convidada pela escola e pelo SOE para ter informações a respeito da vida familiar e encaminhar a criança e/ou a família para tratamento psicológico.
Em ambos os casos, seja a criança vítima do bullying ou o agressor, o trabalho a ser feito deve começar com a família, sem o que qualquer tipo de intervenção não terá êxito. E no que diz respeito às escolas, estas também terão que se posicionar e tomar providências severas em caso de não atendimento da família às mudanças necessárias (expulsão ou suspensão da criança).
Acredito que a prevenção de qualquer tipo de bullying deva começar em casa, para que as crianças e os jovens não sejam vítimas dele dentro do próprio lar.





  

Gravidez com saúde para você, mamãe e seu bebê.

Como lidar com a notícia de uma gravidez? Para aqueles que já a esperavam e para os que não a esperavam, estar grávida é um momento singular e traz muitas dúvidas, preocupações e inquietações. Após o nascimento, acompanhar o desenvolvimento de seu bebê, se adaptando a ele, não é tarefa fácil. É uma fase cheia de perguntas, necessidade de respostas e esclarecimentos. As avós, tias, outras mães e profissionais de saúde podem ser de estimável ajuda.
Há quem pense que esta fase fica para trás depois que o bebê cresce. Não. Há sempre recaídas e retrocessos, pois a vida de um Ser Humano que está crescendo é assim. Está sempre rumo à independência, segundo Donald Winnicott.
Aqui será um lugar onde você poderá tirar suas dúvidas. A cada semana postarei dicas, conselhos, depoimentos e espero que me ajudem postando dúvidas e perguntas.